Não estou de dieta, estou só comendo corretamente

Marise na confraria fitQuando li o livro “Comer, Rezar, Amar” da escritora Elizabeth Gilbert, o qual narra a história do redescobrimento da vida por uma jornalista, nem imaginava que escreveria este artigo, muito menos para um site que aborda saúde, dá dicas de alimentação saudável e de qualidade de vida e comercializa pratos funcionais. E por que me lembrei desse livro? Em “Comer, Rezar, Amar”, a autora, ora de forma reflexiva ora de forma bem humorada, destaca vivências com a comida, a fé e o amor. A minha experiência também esbarra um pouco nisso, porém, com algumas diferenças.

Comecei a pensar na mudança que teria que fazer em relação ao “comer” em meados de 2013. Após anos e anos tentando emagrecer, a ideia dessa vez era buscar o que ainda não havia feito. Juro, esperava mudar, mas não esperava que a virada fosse tão grande, importante e com fortes indícios de ser definitiva.

Modificar a forma de alimentar não é simples, há muita coisa envolvida: crenças, mitos sobre alimentos, experiências da infância, noções equivocadas e corretas que foram inculcadas, hábitos, ensinamentos dados por pessoas queridas; mas, como eu já havia tentado, desde a adolescência, várias vezes e vários métodos, pensei que seria mais ou menos parecido dessa vez. Não foi!

A primeira coisa que fiz foi listar o que ainda não havia experimentado: eu nunca havia procurado uma nutricionista, nunca tinha me matriculado em uma academia e jamais experimentara a acupuntura. Resolvi (re) começar com estas três novidades.

Comer. Ninguém, em plena consciência de seus atos, levanta-se pela manhã e pensa: “hoje vou comer demais, vou engordar uns 5 quilos só esta semana. E não tem problema se eu estiver pesando 90, 100, 120 quilos”. Para quem tem esse vício, o de comer, é por demais desumano ter que encontrar com seu vício, todos os dias, várias vezes ao dia. No café da manhã, no almoço, no jantar, na sua casa, no seu trabalho, nos eventos sociais, em toda esquina. Se um dependente químico, um alcoólatra ou viciado em qualquer coisa ficar em nossa companhia por algum tempo, teremos o bom senso de protegê-lo; não temos coragem de oferecer, nem mesmo deixar à sua vista, aquilo que sabemos ser a sua fraqueza. Mas com a comida não é assim. Aquele que come desmedidamente tem que conviver com seu vício, para viver e sobreviver. A ajuda de um nutricionista era uma coisa muito nova para mim. Ao me aproximar desse profissional, fui realmente surpreendida: quanto conhecimento, quanto estudo e quanta coisa influenciam o ganho de peso, o apetite, a dificuldade de emagrecer! E (re) aprender foi uma necessidade: aprender a perceber a fome, o corpo, o efeito de um carboidrato ou de uma proteína em determinado horário, identificar o que me deixa saciada por mais e menos tempo.

Não sei se o que tive foi só sorte, mas o que me foi explicado pela minha nutricionista, com toda paciência e sabedoria, fruto de sua competente formação, mudou a minha forma de ver os alimentos, de enxergar a minha fome e, sobretudo, de perceber que tudo está interligado: o que se ingere, o quanto, o como, o objetivo e o resultado a que se almeja. Isso muda a vida!

Exercitar. Nunca fui uma gorda preguiçosa. Caminhava com regularidade e, mesmo tendo quase 90 quilos, sentia-me animada a sair de casa, viajar, passear. Mas, com a ideia de experimentar o que ainda não tinha feito, atendi à sugestão de minha filha: “Mãe, você tem que ter um compromisso. De preferência que você pague por ele, pois, assim, não vai ter coragem de faltar”. Então o fiz. Procurei uma clínica de hidroginástica perto de casa, expus minha dificuldade com o peso e comecei a praticar intercalando com a caminhada. Quatro vezes por semana, anotado o horário na agenda, eu me comprometi comigo mesma a cuidar do meu corpo. Quantas vezes, dentro da piscina, eu repetia baixinho (e ainda repito): “Cuide de você, da sua mente, do seu coração e do seu corpo”.

Ao longo desses 3 anos, não desanimei. Saio para nadar e para caminhar, toda semana, recordando que meu corpo e minha mente agradecem com a saúde em alta, a postura correta que evita tantas dores, a coluna feliz por estar sustentando aquilo que consegue e o astral lá em cima.

Inovar. Sempre gostei de viver, de sorrir e da companhia das pessoas. Amar a minha saúde, o meu corpo, a minha vida, para poder ter energia para cuidar de mim e de outras coisas foi uma redescoberta. Na busca pela novidade, também fui atrás da acupuntura e, mais uma vez, fui agraciada com uma “senhora profissional”. Falei a ela sobre tudo o que me afligia. Minhas “fomes”, meus descontroles, meus sonhos, minhas ansiedades. Quis dar crédito a essa medicina milenar e, toda semana, ao sair do atendimento com a acupunturista, saio leve, relaxada, disposta a ter mais uma semana com os pensamentos sob controle e a comida também!

Uma das frases de que mais gosto no livro “Comer, Rezar, Amar” é quando o personagem diz que “o importante é viver e ser feliz, mesmo que isso signifique deixar tudo pra trás e recomeçar, pois, na vida e no amor, as conquistas são feitas todos os dias.”. Essa frase converge com a minha experiência. Estou deixando muita coisa para trás: hábitos, crenças, formas de enxergar a comida, as pessoas, tudo. E hoje, quando me perguntam se ainda estou de dieta, eu apenas repondo: “Não estou de dieta, estou só comendo corretamente, mais um dia”.

Marise Nancy de Alencar é pedagoga, mestre em educação, culinarista e proprietária da Seletiva.

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